Uma janela azul de frente ao balcão, que estava debruçada, era o portal para o salão
De lá podia ver os casais dançando, cabelos que balançavam, pernas se roçavam
O som era arrastado e sincopado na sanfona da máquina que durante a noite engolia cédulas e pedidos musicais
De cabelos cacheados e amarelados a jovem avança para dentro do bar
Seu desejo da noite já havia abraçado e tudo parecia estar tranquilo
Quando na segunda música a ideia de surpreender com o uso provocativo muda o clima do recinto
A novela iniciava o capítulo que poderia ser o último ou o primeiro
Meu olhar a observar a cena e as personagens que eram colocadas sem que fosse preciso uma seleção na cena, estava atento e nada podia o fazê-lo piscar
O choque quando dirigia a janela azul fez com que lhe travasse a fala
Logo um soco no peito era dado e de modo quase que automático veio com a reação de repulsa
Ela queria... Queria beijar, beijar ele, o cara que ela não tinha flertado naquela noite
Ele, talvez quisesse provar o que não necessitasse de prova
Seu olhar surpreso e decepcionado ao vê-la do espelho
Não podia imaginar tal reação, sua cara estampava a máscara da tristeza
Logo não se podia ouvir o som, a dança com a moça no salão já não mais compassava
Em um passo galopado veio na direção da janela e avançou para certificar do que acontecia naquele lugar
Todos já faziam parte da cena, seus amigos, amigas, transeuntes e até mesmo o dono do bar
Que observava atentamente toda aquela cena, como um diretor, que reduz o som quando preciso, encerra o expediente e até mesmo leva seus atores para casa
O jogo da sedução iniciava naquele instante
Os cabelos cacheados eram enroscados a barba grande e preta do cara branco que parecia não ser daqui
Os estalos dos lábios e o respirar que atravessava os beijos podiam ser ouvidos por quem estava próximo
De longe seu flerte preparava-se para entrar no jogo
E o pedido de novos jogadores foram feitos
De azul feito a janela, o time do homem se estabelecia
De cabeleira crespa, olhar singelo e um corpo que bailava levemente no salão
A bela negra se lançava no palco e logo escolhia a que time fazer parte
O jogo estava iniciado, se de um lado os beijos eram enroscados por entre os cabelos, do outro as mãos alcançavam e mexiam por entre o couro cabeludo
As mãos brancas e riscadas do barbudo que a beijava percorria as vias sinuosas de seu corpo
O dedilhar das mãos negras também percorria o azul que vestia o outro time
O balançar da dança e o compasso sincopado fazia recomeçar o jogo
Quatro por quatro, dois por dois... os corpos se embalavam e cada vez mais enroscavam-se
Eram misturados aos beijos molhados... aos dedos que percorriam os corpos
O corpo de jurados não sabia a quem merecia o troféu
Se um defendia o passo de uma dança o outro defendia o molejo da outra dupla
O jogo se estendeu... o suor deslizava sobre os corpos... mais um gole, mais uma dose... cada dupla fazia seu pedido
O descanso era preciso ... o etílico derrubava-os no jogo... o empate foi colocado
A jovem se despediu dando um beijo, que não lembraria depois, no seu adversário antes partida... talvez o jogo tivesse encerrado...
Pela manhã acordara com o gosto de sono dos beijos do outro rapaz
A tarde ao som dos tambores da orquestra encontrara o elenco e de lá iniciaria um novo capítulo... Mas dessa vez eu não estava por lá...
De vez em quando é preciso fazer o que se tem vontade
Mesmo que não possamos (vi)ver novos capítulos com velhos atores
No próximo capítulo tudo pode mudar
No próximo capítulo tudo pode
No próximo capítulo
No próximo
Quem sabe eu assista novamente.
Sobre uma noite no balcão de frente a uma janela azul que mais parece uma televisão... talvez eu tivesse mesmo visto uma novela.