“Uma dose da sua voz em meus ouvidos... Quero outra”



Teu corpo cambaleava destilado pelas doses de álcool da noite
Um olhar quase que distante em mira ao que acontecia na festa
A voz marcante e a expressão da boneca artista era colocado no palco
Palco de linhas invisíveis que acolhia as várias possibilidades de expressão

O canto suave e ao mesmo tempo arrepiador me sufocou as entranhas
Seu timbre, sua estética tudo era misturado num liquidificador de segredos

O encantamento era dado compulsivamente a cada palavra que saía dos lábios dela
Da beleza que era torta e arrematadora

Uma metamorfose desenvolvia dentro de mim
Aos poucos me sentia presa em tudo que poderia sair da tua boca

Os lábios se abriam e movimentavam-se com a música
A excitação era medida pelo meu desejo de ouvi-la um pouco mais
De alguma forma aquela voz me batia de frente
E meu olhar não mais desviava-se na imensidão
O foco já era preciso
Meu olho cego conduzia a mira
E sua voz me levava para mais perto

De lá podia ver todo seu corpo e sentir tua voz no meu cangote
E até perceber quando ela cambaleava entre os tons
Já não podia mais desviar-me dali
A mira já estava feita

Destilei em doses o sangue que corria em minhas veias
E embebedei-me... Misturando a doses de cerveja e tragos compulsivos

E o clarão aos poucos ia tomando conta do teto que de nada por cima era coberto
Da mulher que chegou na claridade da madrugada
Quando o sol ainda não havia acordado
E o céu estava em mutação de cores
E cantou como os pássaros... como os pássaros que me invadem meu lar

A minha vontade era de admirar-te sem que pudesse me notar
Mas as palavras que de mim brotam sem medida não quis que isso ficasse guardado

O etílico que domina a cabeça nesse momento me fez vomitar em poucas palavras o que havia sentido naquele lugar... Lugar que quero voltar e logo
Nesse lugar que é criado quando ela cospe embebedada os versos da última canção.

O sol já está a nascer. Meus olhos lutam para vê-lo.
A gama de cores parece como lá... mas o som daqui é outro
Talvez eu quisesse ouvi-la um pouco mais
Ou talvez eu quisesse ouvi-la agora
Talvez quem saiba um dia eu possa novamente

E assim destilar todo meu corpo em doses de partituras a conta gotas, num compasso em que a divisão não seja tão precisa e as tonalidades sejam tão mutáveis como as cores que avisto do céu nesse instante.