"De noite, em minha cama, busquei aquele a quem ama a minha alma; busquei-o, e não o achei" Cânticos 3:1



O volume alto me fez notar as diferentes tonalidades entre os sons produzidos pelos corpos... aos poucos eles saem da sala de estar e passam para o leito retangular
Um sobre o outro... pernas feito nó... o suor escorria pelas costas... e a língua logo depois pelas pernas... seu som era rápido e harmonia se dava com os sussurros compassados e excitantes de quem estava por baixo...

Não resisti traguei mais outro... e outro... 

Seu ar entrava e soprava em meu peito deixando-me com uma forte vontade de dilatar meu desejo de me fazer tua
Não sabia muito bem como seria
A certeza que guardava era que poderia ser o que me deixasse ser
Bastasse uma chance... uma apenas
Deixar meu corpo com o teu apenas de vez em quando saturava a vontade que eu tinha em poder sempre estar junto

Recordava as ligaduras que meus dedos dedilhavam 
Os sons que produzíamos... nós... dois corpos compostos de som e silêncio
De pausas e compassos desordenados mas afinados em diferentes tons 

... O SILÊNCIO... O SILÊNCIO...O SILÊNCIO...

Não se escuta carros ou gente conversando nas portas
O que se vê da janela é o engradado que marca os fios da rua
A neblina encobre metade da cena 
O clima é frio... sinto uma tristeza feito blocos de gelo
Que me deixa presa e com medo
São 04h07 meus olhos parecem pesar
Ainda busco o último trago... não consigo dormir
Mesmo com os olhos carregados meu pensamento vagueia no espaço
 
Algo volúvel... quase nada se guarda... e o vazio ataca

Ainda sinto sua falta...

"Destilei meu coração 
Com uma dose de licor de chocolate
Me embriaguei por ti
Meu amor, por favor
Me perdoa, volta amor" 

"Já que não te tenho por perto eu vou..."

Talvez seja amor ou eu nem saiba exatamente o que seja

A luz e a fumaça que penetram minhas veias
É misturada ao sangue ralo que passa em meu peito
O sentimentos embrulhados na minha cabeça
Feito uma onda gigante é ativado com o álcool
"A cada segundo sinto os sentimentos mudarem"

Toco uma canção... bebo mais um drink
Sento e me balanço
Vejo-me bem perto de ti
Perto do seu coração ...
Às vezes me escondia por lá

Fico perdida sem ti
As palavras... os beijos... minha língua... tua boca
Boca que muitas vezes era céu
De estrelas cadentes que guardava em meus lábios
E desejava eternidades nos instantes em que caiam sobre mim...Fazia pedidos... desejava... 

O vermelho compõe o retrato... 
A penumbra da noite encobre o segredo
Um cigarro vagabundo alimenta meus pulmões
Meus olhos até comiam seu coração
Seria o Prato (per)Feito do meu último jantar...
...

"Pra lembrar que deixei um romântico 
No cine da sessão das 1o
Pra ficar contigo"
...
Talvez eu nunca tenha coragem
Mas nunca é algo feito "para sempre"
Não acredito muito nessas coisas
...
Nossos corpos... mãos... braços... coxas...os dedos que passavam pela face...
...
"A cama e as quatro paredes
Nossa sala escura
Um cinema pra nós"

Uma pipa voa em mim...
Os desenhos feitos na pele...me lembra o lençol estampado da última noite.

Me sinto embriagada... embriagada dos sentimentos ativados com o álcool...
Um brinde... aquilo que achamos que possa ser o amor...tin...tin!
 

"É justamente o que eu preciso... Quero de amor me embriagar" (Malacada- Salomão Miranda)

O som do apito soava compassado em meus ouvidos
"De que vale a languidez carnavalesca" Malacada¹
O samba embalava a noite de domingo
Os passos percussivos cobriam o salão
O rangido da sandália, o remexo do pandeiro
O surdo com seu grave batia em meu peito
Senti um medo e uma vontade 
De entrar no compasso da dança
O círculo vermelho da Rosa
Agrupava os acordes corporais
Que no balanço musical entrava em harmonia com olhares dissonantes 
Que vagavam pela rua desde o último carnaval.

¹Música de Salomão Miranda, interpretada pelo grupo Malacada

Uma noite no Bar La Rosa Mossoró ouvindo o grupo de samba Malacada.

"Na captura da pessoa que pudesse ser tão boa" (Sérgio Sampaio)



Agora...agora... é o tempo
O tempo embriagou...

Vejo tudo em seus olhos...
Pelo espelho do quarto 
Sua fotografia reflete... e... seu sorisso penetra em meu olhar
Às vezes, me vejo com você
Cantando... bebendo...o whiski velho do armário de casa
Fui à cozinha... peguei um destilado

Agora...agora... é o tempo
O tempo embriagou...

Tranquilidade...sensibilidade
Cheguei a rir do que passava na tv
Mas você não estava
Meu coração esfriou e solidificou
"Depois"¹... ouvia uma nova canção

Agora...agora... é o tempo
O tempo embriagou...

Um instante repulsivo me fez levantar 
Coloquei no rádio nossas canções
Deitei em meu sofá
Enxergando o teto amarelado da luz e a fotografia do lago
Senti uma metamorfose de sentimentos
Que passavam por mim a cada segundo

Agora...agora... é o tempo
O tempo embriagou...

O canto harmonioso que entrava em meus ouvidos
Era misturado ao meu corpo jogado 
No vale de lágrimas do "dry martini" de Braun²
O último gole me cortou a garganta e o peito

Agora...agora... é o tempo
O tempo embriagou...ou fui eu!?

"De dia, vou me mostrar de longe. De noite, você verá de perto" (Tiê)


As luzes amarelas da cidade estavam acesas
A sombra dos postes atravessavam a cena
Via seu corpo juntar-se milímetro por milímetro
Não havia espaço para movimentos maiores
No vidro rapidamente formou uma camada acinzentada
Seus abraços e o suor misturavam-se aos beijos que devagar iam componho o som
O arranjo melodioso que a língua fazia era completada pela harmonia da música que tocava no rádio 
"Me abriu feito ostra e colheu minha pérola" (Sérgio Sampaio)
Envolvia-me em situações que seriam esquecidas ao voltar para o meu lar
O gosto amargo da cerveja era alimentado pelo hálito de nossos beijos
A língua era feito liquidificador ... remexia os desejos... abria os lábios
Depois de batidos éramos bebidos um pelo outro... gole a gole
Os corpos ficaram lânguidos... um cochilo
De longe se via as pessoas caminhando...
O amanhecer... barquinhos balaçavam no mar
E o sol acordava da noite que pouco havia dormido
Eu me escodia em ti... ... ...
No breu do seu coração... ... que se abria apenas à noite
Para que as luzes da cidade pudessem iluminar suas vontades
E, novamente você olhar no fundo dos olhos e penetrar em meus sentimentos
Congelados no coração que amolece nas noites que inventamos novas canções.

Eu tenho um compromisso com o vício ... a embriaguez dos sentimentos me vicia... não sou vencedor... sou vencido.